Ora Pro Nobis: todos os tipos

Ora-pro-nobis dourada, rara e ornamental
Paixão à primeira vista, a ora-pro-nobis já morou por muito tempo aqui em casa num vaso, sem ao menos sabermos do que se tratava. No livro de plantas que tínhamos à mão, num mundo sem internet, era a primeira edição do Plantas Ornamentais no Brasil, de 1995. Nele, a única referência ao nome mais popular da planta era trepadeira-limão ou groselha-de-barbados, dos quais citava-se o uso comestível apenas dos frutos.

Olá, deseja uma salada de groselha-de-barbados?

Numa rua próxima da nossa havia uma cerca tomada pela planta, e tivemos a sorte de presenciar a floração, espetacular. Foi nossa primeira paixão com a planta, ora-pro-nobis com uso ornamental. A minha primeira muda já identificada da planta eu adquiri no Viveiro Sabor de Fazenda, uma referência em cultivo orgânico de PANC, aqui em São Paulo. E conforme ela crescia, entendi que tratava-se da mesma planta.


Ora-pro-nobis comum (flores brancas) (Pereskia aculeata)

Esse nome bonito vem do latim, "rogai por nós". Mas não se confunda, o nome em latim dela é, botanicamente, Pereskia aculeata. Talvez o autor do livro achasse mais bonito um nome como "groselha de barbados". Os frutos são, de fato, ácidos como uma groselha, mas são mais próximos do figo da índia ou da pitaia, por exemplo, afinal a ora-pro-nobis, apesar das folhas, é um cacto, mas bem primitivo. É o cacto que não perdeu as folhas na evolução. Aculeata, aliás, indica que os espinhos são finos e pequenos, como acúleos, na base das folhas. Dela, eu tenho quatro variedades, cada uma trazida de um lugar diferente. Algumas possuem frutos maiores, outras possuem as folhas com menos mucilagem. Apesar de iguais, existem pequenas diferenças entre elas.

Folhas velhas de ora-pro-nobis
Os frutos maduros, saborosos e nutritivos.

O "rogai por nós" tem uma certa explicação histórica, mais mitológica do que verídica. Na Minas Gerais colonial, algumas igrejas tinham cercas feitas dessas plantas, e o padre não gostava muito que a população colhesse. Então, na hora da missa, quando o padre tirava os olhos das plantas, era a hora da população ir colher, na hora do "ora-pro-nobis", uma missa muito longa. Outra lenda diz que o padre a comeu na casa de um fazendeiro local, e gostou tanto que exclamou "ora-pro-nobis", uma versão colonial do nosso "benzadeus"!

Famosa e muito divulgada como sendo a "carne vegetal", a ora-pro-nobis já tem fama própria e é relativamente fácil de ser encontrada nas feiras de orgânicos aqui em São Paulo. Essa fama toda deve-se em parte ao seu alto teor de proteínas de boa qualidade, incomuns à uma hortaliça folhosa. Rica em cálcio, como todo cacto, assim como boro, magnésio e zinco, e com teores de proteínas em base seca por volta de 25%. Mas, claro, não substitui a principal fonte de proteínas de uma refeição, seja ela qual for. Mas que é boa, é sim. O curioso é que em Minas Gerais é usada como complemento de carne de frango ou de porco.

Os usos medicinais são fortificante, para prevenir e combater ulcerações, anemia e para melhorar o trânsito do intestino. Para uso externo, em cataplasma, é cicatrizante e anti-inflamatório.

Os brotos, avermelhados, na época de chuvas.
É só começar a época das chuvas e a ora-pro-nobis começa a crescer, se espalhar, brotar intensamente e ocupar espaço. E ela gosta de podas, porque quanto mais se colhe, mais se tem. Desde que tenha uma cerca para subir, sol pleno e solo fértil, você terá colheitas infinitas ao longo da primavera e verão. No inverno, contudo, ao menos na seca quem tem sido aqui em SP, a planta estanca o crescimento e fica estática. Não vá abusar dela nessa época.


Ora-pro-nobis dourada (Pereskia aculeata var. godseffiana)

Mas sim, não existe só essa Pereskia. Da mesma espécie, existe a ora-pro-nobis dourada, uma planta extraordinariamente linda, mas cujos teores nutricionais ninguém estudou ainda (ou eu não fui capaz de achar). Acredito que tenha compostos antioxidantes nas folhas devido aos pigmentos. Os brotos são avermelhados e as folhas matizadas de rosa e laranja. uma lindeza sem fim. O crescimento é indeterminado e ela é mais ramificada, com os galhos mais curtos, podendo ser mantida como arbusto baixo. As folhas tem sabor similar, mas não as consumo regularmente porque minha planta ainda é pequenina. Ah, ainda não tive a oportunidade de vê-la em flor.

Os brotos coloridos da variedade dourada.

Os ramos, de coloração chamativa.


Ora-pro-nobis laranja (Pereskia bleo)

Outra ora-pro-nobis esplêndida é a ora-pro-nobis laranja, que após muita procura consegui encontrar em Belém do Pará, de onde veio a minha mudinha. Nome científico Pereskia bleo. Ela é arbustiva e muito prolífica, gostando de ambientes úmidos, quentes, semi-sombreados e com solo fértil. Existem belos exemplares no Jardim Botânico Plantarum, caso você queira ver um de perto. Coisa fina. A floração ocorre o ano inteiro, e as folhas são mais finas, macias e ácidas do que a ora-pro-nobis comum, a P. aculeata. Se ela vai bem aqui em São Paulo, não sei, mas ela chegou intacta de Belém e está começando a brotar agora. Viciados em sucos verdes, procurem uma muda dessa planta, porque das ora-pro-nobis, eu acho essa a mais gostosa.

As chamativas flores da ora-pro-nobis laranja, Pereskia bleo.

Os ramos, porte arbustivo.
As folhas, em Belém do Pará.
As flores, muito ornamentais.


Ora-pro-nobis rosa (Pereskia grandifolia)

Por fim, há a Pereskia grandifolia, ou ora-pro-nobis rosa, que difere-se das outras pelo tamanho, pelas folhas grandes e pelas flores rosadas, além de espinhos com mais de 5 centímetro. Quando grande e antiga, fica por por quase arbustivo e um aspecto muito diferente - você pode verificar um exemplar antiquíssimo no Jardim Botânico de São Paulo, à esquerda das estufas, com um banco embaixo dele. É preciso ficar atento, porque de fato parece uma árvore. As folhas são amargas e possuem teores elevados de saponinas, então devem ser consumidas preferencialmente cozidas. Possui bom rendimento, mas o cresimento é mais lento do que as outras duas espécies de ora-pro-nobis.

Ora-pro-nobis rosa, Pereskia grandifolia.
A ora-pro-nobis rosa fica bem grande. Consumir cozida.

Para plantar, dependendo da espécie, é bom ter espaço, um bocado de sol e solo fértil, porque todas as espécies de ora-pro-nobis desempenham melhor em solo fértil e bem-drenado. Para consumir, eu pessoalmente não gosto da folha pura refogada, mas ela pode entrar em pratos do dia a dia da mesma maneira que a escarola, o espinafre e a couve. Dê uma olhada na internet que vai encontrar ótimas idéias. 



Se quiser saber mais sobre seu uso tradicional em Minas Gerais e novidades na cozinha, assista os vídeos acima. 

Por Guilherme Ranieri

Fonte: http://www.matosdecomer.com.br/2015/12/ora-pro-nobis-outros-tipos.html

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