Os benefícios do ora-pro-nóbis para a saúde
Plantado num vaso grande, um pé de ora-pro-nóbis é suficiente para um casal comer até duas vezes por semana. (Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital) |
Veja para que serve essa planta consagrada por seus atributos nutricionais e culinários
No princípio era o estado de Minas Gerais. Em tempos de colônia, o ora-pro-nóbis, planta de nome científico Pereskia aculeata,
frequentava as mesas dessa região, especialmente das chamadas cidades
históricas que foram povoadas no ciclo do ouro. Nos últimos anos, sua
fama se esparramou, inclusive pelos benefícios para a saúde.
Vem do Sul uma revisão de estudos que confirma sua riqueza
nutricional. “A espécie oferece minerais como manganês, magnésio, ferro,
cálcio, além de vitamina C e fibras”, enumera a pesquisadora Larissa
Wainstein Silva, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina.
Um arranjo protetor da imunidade. Outros trabalhos revelam ainda uma
grande quantidade de compostos fenólicos que resguardam as artérias.
Seu teor proteico, porém, sempre foi o mais alardeado. “Ele pode
concentrar de 17 a 32% de proteína em matéria seca”, quantifica o
engenheiro-agrônomo Nuno Rodrigo Madeira, da Embrapa Hortaliças,
no Distrito Federal. Essa exorbitância inspirou a criação de um tipo de
farinha que enriquece bolos, pães e massas, deixando as receitas com um tom esverdeado.
Desconfia-se também que tanta fartura esteja por trás de um de seus
mais antigos apelidos: carne de pobre. Relatos dão conta de que, na
falta de um filé no prato, o povo menos favorecido recorria ao alimento
para suprir a necessidade do nutriente.
É certo que as folhas frescas não valem por um bife, mas são muito
bem-vindas. “Trata-se de um ingrediente que promove a nossa
biodiversidade e que pode colaborar para o combate à monotonia
alimentar”, avalia o nutricionista José Divino Lopes Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Realmente é um sacrilégio priorizar hortaliças vindas de outros
continentes diante de uma opção nativa, abundante, deliciosa e que
carrega tanta história.
Para que serve o ora-pro-nóbis, das flores ao broto
Flores: elas também são comestíveis e colaboram na finalização de pratos. Além disso, atraem abelhas e se fazem essenciais para a produção de mel.
Fruta: a coloração alaranjada denuncia a presença de
betacaroteno, substância aclamada pela ação antioxidante. É
matéria-prima de geleias, sucos, licores, compotas…
Broto: cheio de fibras,
o talinho, que muitos chamam de ponteira, é a parte jovem do
ora-pro-nóbis e lembra o aspargo. Crocante, costuma ser degustado cru.
De cerca viva a alimento
A Pereskia aculeata é considerada parte do time das plantas alimentícias não convencionais, as chamadas Pancs.
A nutricionista Irany Arteche, de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, é
uma das responsáveis por cunhar a sigla. “Mas, no caso do ora-pro-nóbis,
o P pode ser sinônimo de Patrimônio”, brinca.
“Como ele não está inserido nas cadeias produtivas, é raro
encontrá-lo em feiras e supermercados”, avisa Madeira, um dos grandes
entusiastas da espécie. Embora haja um movimento pela sua valorização na
cozinha, ele segue sendo bastante utilizado exclusivamente como cerca
viva nos quintais Brasil afora.
Inclusive, antigamente, as igrejas mineiras contavam com essa
proteção natural. Graças à altura de seus arbustos — que alcançam até 10
metros de altura — e a presença de espinhos, a planta ajudava a impedir
a entrada de intrusos na hora da missa.
Essa relação eclesiástica explica a origem de seu nome. Ora-pro-nóbis
significa “rogai por nós” e fazia parte de orações dirigidas a Nossa
Senhora. Há relatos de que alguns fiéis costumavam devorar a “cerca”
durante os intermináveis sermões proferidos em latim, tão recorrentes no
passado.
A nutricionista Andrea Matias, professora da Universidade Mackenzie,
em São Paulo, e integrante do projeto Biodiversidade para Alimentação e
Nutrição (BFN), iniciativa que visa ampliar o consumo de alimentos
brasileiros, conta que a espécie também é chamada de outras maneiras.
“Muitos não conseguiam pronunciar o latim, assim surgiram derivações
como lobrobó, orabrobó, entre outros”, conta.
Historiadores dizem que os padres não só foram os responsáveis por
batizar a espécie como auxiliaram na sua disseminação para outros cantos
por meio de viagens — eles inclusive teriam ensinado receitas com o
alimento. Será obra de um sacerdote a tradicional mistura da planta com
angu de fubá ou costelinha de porco? Vai saber…
Como plantar e cultivar ora-pro-nóbis
Onde achar: a muda não é comercializada em centros convencionais. A solução é procurar em viveiros e até em feiras de produtos orgânicos.
Dê apoio: escolha vasos grandes e apoie a espécie com estacas enfiadas na terra. Por ser uma trepadeira, ela necessita desse sustento.
Banho de sol: como é da família dos cactos, o ora-pro-nóbis precisa de luz solar. Em apartamentos, aconselha-se deixá-lo próximo a janelas.
Nada de encharcar: em ambiente externo, o ideal é
plantar na primavera por causa das chuvas. Quanto à rega, não abuse —
mas jamais deixe a terra seca.
Tempo de colher: em geral, a primeira colheita das folhas ocorre 120 dias depois do plantio. Daí é só fazer experimentações na cozinha.
A manutenção: para que não cresça demais, realize podas, em média, a cada dois meses. Use luvas ao manusear a planta, já que ela tem espinhos.
Festival de sabores e receitas
Na cidade mineira de Sabará, há um festival dedicado especialmente à
planta — ele ocorre há mais de duas décadas. Durante três dias,
geralmente no mês de maio, milhares de pessoas se reúnem para ouvir
música e, claro, comer muitas delícias feitas com a matéria-prima
sacralizada. “Resgatar ingredientes e saberes antigos, que caíram em
desuso, ajuda a ampliar a oferta desses alimentos no dia a dia”, defende
Irany.
Sem contar que é um delicioso convite para testar e conhecer
receitas. “O gosto neutro do ora-pro-nóbis confere versatilidade
culinária e garante sua presença em pratos diversos”, comenta uma grande
fã da espécie, a médica Marcela Voris, da Associação Brasileira de Nutrologia.
Desde saladas até refogados, passando por sopas, molhos, doces e
farofas, o ora-pró-nobis percorre a cozinha de acordo com a criatividade
do mestre-cuca — cabe ressaltar que combina com todos os tipos de ervas
e temperos.
Das folhas suculentas destaca-se um tipo de mucilagem, substância
que, além de dar aquela força ao funcionamento do intestino, atua na
consistência das preparações culinárias. Por isso, anda despertando o
interesse da indústria alimentícia. Trata-se de um dos agentes por trás
da viscosidade que surge quando o vegetal vai ao fogo, engrossando
cozidos e ensopados.
Eloi Moreira, chef de cozinha de Belo Horizonte, revela um truque aos
que não gostam do líquido “quiabento”. “Para atenuar essa baba, basta
acrescentar gotas de limão”, ensina.
Outra estratégia é manter a folha inteira, sem picar. E pode mandar
para a panela sem medo de acabar com suas benesses. “A maioria dos
nutrientes encontrados na espécie se mantém. Há poucas perdas”, garante
Irany.
Só não pode cometer o pecado de esquecer o vegetal cozinhando. “A
sugestão é incluir ao final do preparo dos pratos e deixar alguns
minutinhos para garantir sua textura”, sugere Moreira.
Se você ainda não provou o ora-pro-nóbis, saiba que está perdendo uma experiência celestial.
Dicas de preparo nas receitas
Ao natural: as folhas suculentas podem entrar cruas em saladas. Misture com outras verduras nacionais, caso da major-gomes e da beldroega.
Cozida: compõe receitas de refogados, omeletes, caldos e acompanha costelinha de porco, frango caipira e outras carnes.
Farinha: leve as folhas ao forno e asse, em fogo baixo, por cerca de uma hora ou até secarem. Triture-as. Vai bem em bolos, pães, pizzas…
Molhos: o chef mineiro Eloi Moreira criou um molho
pesto com ora-pro-nóbis e castanha-do-pará. A planta ainda dá um toque
especial a vinagretes.
Poderes fora da cozinha
Não bastasse sua tradição culinária, o ora-pro-nóbis sempre foi
utilizado como um tipo de unguento para aliviar feridas e outras
encrencas da pele.
A antiga aplicação medicinal deu as pistas para a pesquisa do farmacêutico Nícolas de Castro Campos Pinto, da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais. “Identificamos substâncias de efeito anti-inflamatório nas folhas da espécie”, explica.
Além de impedirem a inflamação, os compostos químicos extraídos da
planta são capazes de favorecer a cicatrização e a produção de colágeno.
“Desenvolvemos um creme que está em fase de testes”, revela o
pesquisador.
Por Regina Célia Pereira
Fonte: https://saude.abril.com.br/alimentacao/beneficios-ora-pro-nobis/
Se de fato a planta denominada oronobre tem,ou é, nutricional,estou bem.Tenho plantado como cerca viva,e já conhecendo como nutritiva já faço uso de vez enquando.A história que é carne de pobre,coitados !a planta não tem elementos que possa substituir a carne.ok
ResponderExcluirRealmente é uma cerca viva de alimentos.E eu tenho .
ResponderExcluirRealmente é uma cerca viva de alimentos. E eu tenho.
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