Permacultura Urbana e suas possibilidade
Quando
falamos em permacultura vem logo à mente um espaço rural com hortas,
uma casa bioconstruída, uma agrofloresta etc… Um verdadeiro sonho de
vida. Mas o que fazer quando não temos o espaço suficiente que facilite
nossa imaginação e o desenvolvimento de um local permacultural? O que
fazer quando se mora em cidades em meio à selva de concreto e aço?
Devemos abandonar o desejo de ter um espaço legal onde se possa colocar
em prática os conceitos da permacultura? Deve-se ter tolhido a mudança
positiva que a permacultura pode causar? Não, a permacultura pode e deve
ser aplicado nas cidades.
A população urbana hoje já é maior que a rural. Em 1976 ela era de
apenas 38% porém hoje já representa cerca de 55% e com previsão de
atingir os 60% em 2030. Os efeitos dessa vida moderna das cidades todos
sabem. É natural que no meio urbano a permacultura tenha espaço cada vez
maior. Boa parte dos que desejam implantar a permacultura em suas vidas
não dispõem de um espaço ou terreno para colocar as técnicas da
permacultura. Muitas vezes a falta de recursos financeiros necessários
para sair da zona urbana reprimem os permacultores iniciantes. Após a
imersão em um PDC é natural que o aluno queira sair por aí espalhando a
ética e o design, porém o meio urbano é um local que tende a frear
isto.
No entanto temos que saber que a permacultura deve usar de forma
adequada os recursos que estão no ambiente local, no caso das cidades
temos pessoas em abundância. A permacultura deve se tornar um agente de
mudança no meio rural e também no urbano. Transformar as vidas do grande
contingente populacional urbano é uma meta a ser alcançada. Pode não
ser uma tarefa das mais fáceis, porém é extremamente necessária se
quisermos ter uma mudança nos paradigmas de mundo.
Necessitamos que as cidades se transformem e deixem de ser apenas um
grande cinza onde vivem pessoas e passem a ser um espaço de cores vivas e
onde ocorra biodiversidade. Precisamos não apenas árvores que embelezam
as ruas, mas também árvores frutíferas. Precisamos de agroflorestas
urbanas que produzam alimentos, encha de sabores e cores, atraiam
pássaros, insetos e refaçam todo um ciclo de equilíbrio que faltam em
nossas urbes, como bem fala o agrofloresteiro Vilmar Lermen no Papo Apenã #009. Nossas cidades estão carentes de vida, é urgente refazer os elos que nos conectam com a mãe terra.
Segundo pesquisa publicada em Frontiers in Psychology
bastam apenas 20 minutos em contato com a natureza para que se tenha
redução nos níveis de hormônio do estresse. A permacultura deve cumprir
esse papel de interligar os espaços urbanos com o “meio natural”. Os
benefícios serão claros e duradouros. Como bem pontuado no livro Permacultura criolla (download no final do artigo),
que se baseia na experiência cubana no pós-esfacelamento do bloco
comunista, é errôneo o enfoque restrito dado a permacultura como a
produção agropecuária correta num espaço determinado. Ela vai além,
convida e promove o relacionamento benéfico entre todos os entes que
convivem no grande organismo vivo Gaia,
inclusive e necessariamente as pessoas. Nós somos o elo principal,
sobretudo por sermos o sistema nervoso de Gaia, como bem destaca James Lovelck. A natureza já “faz permacultura”, o homem que deve reaprender a viver com e não contra ela também no meio urbano.
As cidades devem ser transformadas em um coração pulsante de vida e regeneração, não um câncer que suga e mata a mãe terra.
Então, de que forma podemos colocar em prática a permacultura em meio
ao concreto e asfalto? São vários caminhos que podem ser trilhados,
tanto no âmbito doméstico como numa escala maior que envolve desde
adaptações nas atuais cidades e, até mesmo planejamento de novas.
A produção de alimentos no meio urbano é com certeza um dos pontos
mais marcantes. Ela refaz um elo do ser humano com os ciclos naturais da
vida.
A presença dos desertos alimentares torna necessário que se dialogue cada vez mais alternativas que conduzam a uma alimentação adequada com produtos in natura e
minimamente processados. Nesse contexto é cada vez mais comum a
presença das famosas hortas urbanas. Cada pedacinho das casas e das
cidades vai sendo aos poucos ocupadas por novos agricultores que anseiam
produzir alimentos com as próprias mãos.
Praças, canteiros centrais e terrenos abandonados são transformados
em jardins alimentícios dando sentido a uma das afirmações mais famosas
da permacultura de que ela é revolução disfarçada de jardinagem. Um manual(download no final do artigo) bem bacana sobre agricultura urbana é disponibilizado pelo Instituto Pólis. Vale dar aquela conferida lá no site.
David Holmgren,
co-criador do conceito de permacultura, analisando o caso da Austrália,
em seu mais novo livro, o Retrosuburbia, afirma que é preciso uma
grande expansão da agricultura urbana e que as paisagens suburbanas e
periféricas têm o potencial de ser o motor de uma intensificação massiva
da produção de alimentos. Usando o conceito de zoneamento da
permacultura ele procura mostrar as vantagens econômicas da produção de
alimentos no meio urbano e seu entorno, com um aproveitamento amplo de
três zonas: urbanas, suburbanas e rurais. Essa produção poderia
sustentar cada cidade e solucionar os desertos alimentares citados
anteriormente.
Segue abaixo zoneamento sugerido pelo David Holmgren:
Cada zona de uma cidade tem características e peculiaridades, sendo
necessária uma análise detalhada para um melhor aproveitamento das suas
potencialidades, entrando aí o design permacultural como instrumento de
eficiência, otimização e transformação dos meios urbanos.
Um correto zoneamento urbano deve ser o ponto chave num design
permacultural das cidades.
Através dele podem ser detectados os pontos
chaves que desencadeiam efeitos benéficos para a coletividade. Sendo
necessário que os permacultores estejam nas diversas instâncias de
planejamento e execução dos poderes públicos ajudando a potencializar
cada espaço.
Na maioria esmagadora das nossas cidades vemos uma ocupação
desordenada e que não respeita os ciclos naturais: cursos de água que
poderiam abastecer e também servir de lazer são transformados em
esgotos; onde há encostas e que deveriam ser preservadas com sua
vegetação nativa, temos ocupações residenciais que colocam em perigo as
pessoas; zonas de captação de água para os lençóis freáticos sendo
impermeabilizado cada vez mais, fruto da especulação imobiliária etc.
Precisamos olhar cada vez mais as nossas urbes como uma possibilidade
e não como entrave.
Somente assim conseguiremos fazer com que a
permacultura atinja um grande contingente de pessoas e se transforme num
vetor de regeneração em nossas sociedades.
As vantagens de uma cidade em harmonia com a Mãe Terra devem ser
pautadas diariamente em todos os espaços urbanos: nas escolas, nas
universidades, nas igrejas, nas praças, nas residências, no poder
executivo, legislativo e também no judiciário.
“Não estamos todos almejando formas reais para causar
impacto e fazer com que nossas vidas se sintam significativas diante dos
desafios globais que enfrentamos?”,
Pergunta de David Holmgren.
Pergunta de David Holmgren.
Download do Manual "Hortas Urbanas" do Instituto Pólis - CLIQUE AQUI!
Download do livro "Permacultura Crioulla" - CLIQUE AQUI
Por Domingos Savio
Fonte: https://vivoverde.com.br/permacultura-urbana-e-suas-possibilidades/
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